domingo, 28 de outubro de 2007

Zouk!

Por Luis Florião - pesquisador, professor e idealizador do Movimento Lambada Brasil.


Para Quem Gosta de Lambada e Zouk

Muitos acreditam que a lambada - música e dança - sejam produtos culturais do Caribe. Também há aqueles que acreditam que lambada e zouk sejam nomes diferentes para o mesmo ritmo e dança, mas nada disso é verdadeiro. Para entender como surgiu a lambada e desfazer essa confusão é preciso saber um pouco mais, separando danças e músicas nesse caldeirão de ritmos.

Os Caribes e a Lambada
Em vez de Caribe, o mais correto seria a região chamar-se "Os Caribes", considerando que as ilhas foram dominadas por diversos povos europeus, dando características muito diferentes a cada uma delas. Os Caribes seriam quatro: o espanhol, o francês, o inglês e o holandês.
Todos têm em suas culturas, em maior ou menor grau, influência dos nativos, dos colonizadores e dos africanos.
Na música, isso representou uma enorme diversidade, mas com um detalhe: quase todos os países utilizam principalmente os instrumentos de cordas que vieram da Europa e a percussão africana (basicamente do povo Yorubá).

A Música Zouk
A música caribenha, que é também ingrediente de diversos ritmos brasileiros, sempre exerceu grande influência no norte do Brasil, em especial no Maranhão.
O zouk é uma dessas músicas. Forte onde ocorreu colonização francesa como a Martinica e Guadalupe, é cantado normalmente em creòle, uma mistura do francês com línguas africanas. Estudiosos acreditam que a sua base rítmica seja oriunda da cultura árabe. Esta mesma base é encontrada também em vários países como Espanha e Portugal, no continente africano e em praticamente toda a América.
Uma das versões sobre o surgimento da música zouk afirma que ela foi criada para divulgar a Martinica e ter, a exemplo de Cuba, influência cultural na América Latina. O resultado foi apenas parcial: conseguiram que o ritmo se espalhasse pelo mundo, mas como isso ocorreu a partir da França, em diversos lugares, inclusive no Brasil, muitos passaram a acreditar que a música seria francesa.

A Dança Zouk
O zouk - que significa festa - é uma dança muito parecida com o merengue, praticada no Caribe, principalmente nas ilhas de Guadalupe e Martinica.
É dançado trocando o peso basicamente nas cabeças dos tempos musicais e sua coreografia é pouco elaborada.

A Música Lambada
Surgida no Pará, a música lambada tem base no carimbó e na guitarrada, influenciada por vários ritmos como a cúmbia, o merengue e o zouk.
Diversos relatos de paraenses contam que uma emissora local chamava de "lambadas" as músicas mais vibrantes. O uso transformou o adjetivo em nome próprio, batizando o ritmo cuja paternidade pode ser creditada ao músico Pinduca.
O novo nome e a mistura do carimbó com a música metálica e eletrônica do Caribe caiu no gosto popular.
O grande sucesso, no entanto, aconteceu após a entrada de empresários franceses no negócio, que de uma só vez compraram os direitos autorais de centenas de músicas. Com uma gigantesca estrutura de marketing e bons músicos, o grupo Kaoma lançou com êxito a lambada na Europa e outros continentes. Adaptada ao ritmo, a música boliviana "Chorando se foi" tornou-se o carro chefe da novidade pelo mundo.
Seguiu-se um período intenso de composições e gravações de lambadas tanto no mercado interno quanto externo. Dezenas de grupos e diversos cantores pegaram carona no sucesso do ritmo, incrementando suas carreiras, como foi o caso de Sidney Magal, Sandy e Jr, Fafá de Belém e o grupo Balão Mágico. É uma história recorrente, onde apenas mudam os personagens: a valorização do produto brasileiro se dá somente após a vitória no exterior.
Depois dessa fase de superexposição, como acontece com quase todas as boas novas de ontem, deu-se um natural desgaste com a conseqüente queda nas vendas até o cessar da produção.

A Dança Carimbó
Antes de falar sobre a dança lambada lembramos uma de suas raízes: o carimbó. Dança indígena, pertencente ao folclore amazônico vem sendo dançado por lá há séculos. Ascendente direto da lambada é, na forma tradicional, acompanhado por tambores de tronco de árvores afinados a fogo, tendo como principais características: movimentos onde a mulher tenta cobrir o homem com a saia, muitos giros e rotações de cabeça.

A Dança Lambada
A dança lambada teve sua origem no norte do Brasil, a partir de uma mistura da dança carimbó com danças nordestinas e ainda algumas figuras do maxixe como o balão apagado. Em sua primeira fase chegou até o Nordeste, mas, sem fincar raízes. Nesse período a lambada tinha como principal característica os casais bem próximos.
Em seguida, ela chega a Porto Seguro e se desenvolve. Como referências cito as casas Lambada Boca da Barra em Porto e o Jatobar em Arraial D'Ajuda - onde desde o início também as Rumbas Flamencas (então chamadas de lambadas espanholas) e os zouks (então chamados de lambadas francesas) serviram para embalar os lambadeiros.
No fim da década de 80 veio o sucesso mundial que aconteceu graças à grande promoção feita pelo Kaoma, que contava com dançarinos brasileiros em seus shows. No exterior e aqui, a lambada (dança e música) tornou-se um fenômeno de vendas e em pouco tempo passou a marcar presença em novelas (ex. abertura da Rainha da Sucata da rede Globo de 1990), filmes e praticamente todos os programas de auditório - É a hora dos grandes concursos, shows etc. A necessidade do espetáculo faz com que os dançarinos criem coreografias cada vez mais ousadas, com muitos giros e acrobacias.
A aparição do novo estilo, a lambada carioca
Depois de vários anos nos topos das paradas de sucesso pelo mundo, a música lambada entrou em crise e parou de ser gravada. Os Djs das boates aproveitaram então para simular o enterro do estilo musical.
A dança perdeu destaque, mas sobreviveu, pois já haviam sido feitas nas lambaterias muitas experiências com variados estilos de música que tivessem a batida (base de marcação) que permitisse dançar lambada, só para citar um exemplo, a banda de rumba flamenca Gipsy Kings teve vendagem significativa no Brasil por conta da dança. Então as músicas francesas, espanholas, árabes, estadunidenses, africanas, caribenhas etc. garantiram a continuidade do estilo de dança. De todas as músicas, o zouk foi a que melhor se encaixou, tornando-se, a preferida para se dançar a lambada.
O fato de se passar a dançar em músicas com um andamento mais lento, com mais tempo e pausas que praticamente não existiam na música lambada, permitiu explorar ao máximo a sensualidade, plasticidade e beleza da nossa criação. Os movimentos ficaram mais suaves e fluidos, modificando-se à medida que a dança foi incorporando e trocando com outras modalidades, a relação interpessoal voltou a ganhar valor e as acrobacias ficaram praticamente exclusivas para os palcos. Contribuíram ainda diversas pesquisas, até fora da dança de salão, como por exemplo, as de contato e improvisação.
A casa noturna Ilha dos Pescadores (Barra da Tijuca – Rio de Janeiro), comandada por Tio Pio e norteada pelo lema: enquanto um lambadeiro existir, a lambada jamais morrerá, manteve por quase todo o tempo que a lambada esteve fora da moda os domingos direcionados para essa dança, e é nesse ambiente de resistência que se consolida a transição da lambada de Porto Seguro para a lambada carioca.
Hoje, no início do séc XXI, temos o estilo de Porto Seguro (geralmente chamado de lambada) que preferencialmente usa as músicas mais rápidas (lambadas, zouks, músicas árabes...), muita energia, giros múltiplos da dama, muita oscilação dos ombros e dando a ênfase do movimento nos tempos pares da música*1 ou intercalando nos pares e ímpares e o estilo carioca (chamado muitas vezes de lambazouk, lambada zouk, zouk, zouk love, zouk brasileiro, zouk carioca e outros muitos nomes) que normalmente usa músicas lentas como o zouk love e a kizomba (love), é mais sensual, com muitas espirais, torções de tronco, contato e tem a ênfase do movimento nos tempos ímpares*1. Constato ainda grande mistura entre os dois estilos e alguns subestilos.

Reconhecimento
A cada dia, mais brasileiros e estrangeiros dão o devido reconhecimento e valor à nossa cultura. A dança lambada vem se mostrando um grande incremento profissional, no biênio 2006/2007 registramos cerca de dez diferentes eventos pelo mundo, que têm essa dança como destaque - concursos, encontros, palestras*2 e congressos como o Br Danças no Rio de Janeiro, o de Barcelona, o de Brasília e o de Porto Seguro.
Encontramos bailes especializados e professores em diversos estados e nos mais variados pontos do planeta e ainda que chamem equivocadamente a dança lambada de zouk, muitos viveram e vivem dela. Interessante também citar que muitos professores vêm se reunindo para criar formas de divulgações em comum.
De toda essa história ficaram ótimos frutos, por exemplo: uma boa parte dos talentos da dança de salão de hoje, surgiu a partir da lambada; a apresentação da dança a dois aos mais jovens; a visibilidade internacional conquistada - a lambada é a nossa dança de par mais conhecida no exterior (mais até que o samba) e principalmente o resgate do direito, perdido a décadas, de dançar abraçado.

http://www.dancecom.com.br/




*Observação, por Liana Carolzinha

Para complementar:

Kizomba
A Kizomba é um ritmo Africano com origem em Angola nos anos 80, teve grande desenvolvimento em Cabo-Verde onde, a maioria das Kizombas cantadas em crioulo (uma mistura do francês com línguas africanas), conhecidas por "Passada". É a fusão entre o semba e o zouk.

Mais informações:

http://falandodedanca.blogspot.com/2007/04/zouk-dana-msica-e-o-campeonato-onda.html

sábado, 27 de outubro de 2007

Dança: paixão em movimento...

Por Liana Carolina


Quem dança se apaixona e não quer mais parar!
Os motivos são vários, que vão desde a alegria e prazer que a dança proporciona, até a mudança de vida, passando pelo ganho de novas amizades, qualidade e estilo de vida, auto-estima, diversão, trabalho... enfim, são inúmeros os motivos e benefícios.
E melhor ainda, a dança contagia! Prova disso, é o número de escolas de dança que aumentam a cada dia no país. As escolas que já existem estão cheias, os profissionais da área são cada vez mais reconhecidos, casas de dança lotam sem parar...
A mídia tem ajudado a influenciar esse crescimento com o interesse à dança, com a "Dança dos Famosos" do programa do Faustão na rede Globo, por exemplo. Quando pessoas comuns vêem na televisão um artista que nunca dançou antes dando show no palco, além dos depoimentos positivos que eles passam, pensa: "por que eu também não posso?" Aí, corre até uma escola de dança.
E quando percebe, está no mundinho da dança, convivendo com pessoas que dançam, falando quase que só de dança, de música, onde sair para dançar... isto é, respirando dança!
Outro motivo que faz as pessoas quererem dançar é o gasto calórico, isto é, a preocupação com o corpo, já que dançar queima muitas calorias e de uma forma muito mais prazerosa do que correr numa esteira na academia de ginástica. Além da liberação de endorfina, substância produzida pelo cérebro durante as atividades físicas que causa a sensação de bem estar e alívio do stress. É até recomendado em casos de depressão leve.
Pessoas que dançam são com certeza mais felizes, alegres, de bem com a vida e cheia de amigos! Isso quando não arrumam até casamento, o que é muito comum.
Nós brasileiros somos, digamos, abençoados, pois somos conhecidos mundo afora como um país cheio de ritmos, de ginga, como muitos dizem. A variedade de estilos musicais, a alegria, criatividade e a facilidade que nós temos para "requebrar" é muito especial e felizmente sabemos tirar proveito disto!
É bonito ver que em cada região do país há um ritmo específico, a dança tem forte impacto na cultura brasileira, vai além dos internacionalmente conhecidos samba e frevo, também vai além do forró, axé, funk, maracatu, lambada, calipso... sempre surgem novos estilos. Isso sem falar no toque especial que damos ao ritmos internacionais, que se torna como um sotaque aos olhos estrangeiros. Cito como exemplo a salsa que se dança aqui no Brasil, que tem uma batida, ou mixagem toda especial e com o zouk, que a gente dança qualquer música que tenha as três batidas. Duvido que em outros países aconteça o mesmo.

Espero que ao ler este pequeno texto você tenha se identificado com alguns dos motivos que expus, ou tenha pensado em outros, ou no seu de coração, pois para cada um a dança tem uma representação ou importância, por isso, não importa o ritmo, não importa onde, como... o que importa é dançar e não ficar parado hein!
Beijos, beijos.